É preciso exercitar o desapego e a aceitação
“Vida é mudança e qualquer mudança acarreta perdas e ganhos. Se soubermos perceber os ganhos, o sofrimento da perda será bem menor ou nem existirá. Haverá apenas uma adaptação à nova situação”, afirma a psicóloga clínica Maria José G. S. Nery.
Ela comenta que doenças, morte de entes queridos, mudança de cidade, de emprego, de condição social, separações ou a não realização de um sonho ou ideal parecem um mal irreparável, a princípio.
“Ficamos com a sensação de que fomos roubados em algo que tínhamos direito”, observa. Sentimentos dolorosos como tristeza, medo, revolta, raiva e culpa, além de depressão, isolamento, fuga e estresse podem aflorar nestes momentos. “Negar a dor de uma perda é inútil. Os sentimentos ficam nos incomodando sutilmente e um dia eclodem mais fortes”, afirma.
Para a especialista, a angústia de perder, seja o que for, tem diversas origens. Uma delas é o apego excessivo aos aspectos materiais da vida. “Muitos se apegam ao supérfluo e dão mais importância ao ter do que ao ser”, diz. Outras vezes, a fonte é o medo, tanto de perder o que se tem quanto de não conseguir o que se deseja. Portanto, em sua opinião, saber perder é um exercício de desapego. “Quanto mais apego tivermos ou quanto mais dependentes formos de pessoas e coisas, maior o sofrimento”, diz a psicóloga.
Já para a neuropsicóloga Leiliane Tamashiro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, “saber perder é aceitação: de que não conseguimos ganhar sempre e que em algum momento vamos perder. Não queremos, mas é inevitável”, observa.
Ela comenta que separar-se de entes queridos – seja pela morte ou pela distância física – sempre é o mais difícil. “Devemos viver o melhor possível com nossos entes amados, como se houvesse apenas aquele dia. Amar e ser amado são o mais importante. A morte faz parte da ordem natural da vida”.
A perda da convivência com os filhos que se mudam de cidade ou de país para estudar ou trabalhar, ou, ainda, se distanciam depois de se casarem, também requer aceitação, de acordo com a especialista.
Fonte: Nancy Campos