Você já pensou na quantidade de eventos que acontecem no Brasil e no mundo a todo momento?
No entanto, pelo fato de os jornais, programas de rádio e TV ou revistas serem veículos limitados em seu espaço – por terem nascido na era da escassez – eles têm que escolher o que irão apresentar para o seu público.
Cada segundo em um programa de rádio ou TV, ou cada centímetro quadrado em um jornal ou revista, deve ser pensado e repensado.
A “economia dos átomos” – em contraposição à “economia dos bits” – sofre, em sua gênese, do dilema da escolha, o insolúvel “trade-off” que sempre se faz presente. Deve haver uma seleção criteriosa sobre o que deve ou não ser publicado. Tal escolha decorre da falta de espaço para todas as informações disponíveis.
Atualmente, nos veículos tradicionais, tal papel é exercido pelo editor-chefe de um jornal ou de um programa de rádio. Ele é o filtro das informações, o Todo-Poderoso que tem a guarda da maçã do conhecimento e a distribui em nacos.
Em última instância, esse improvável guardião dos portões do conhecimento é quem escolhe de forma opinativa o que será divulgado dentre todos os fatos que lhe chegam às mãos. O quadro é ainda pior porque, mesmo ele, muitas vezes, já recebeu notícias filtradas.
Isso faz com que o mundo que enxergamos pelas lentes da mídia seja míope. Tomamos conhecimento e pensamos apenas sobre o que é noticiado, temos uma noção da parte, não do todo.
Não temos o poder de escolher sobre o que desejamos saber. A mídia pautada na escassez de espaço nos deixa órfãos de algum modo.
Obrigatoriamente, o recorte dos meios de comunicação tradicionais omite informações que nos ajudariam a compreender melhor o mundo em que vivemos e, a partir daí, tomarmos decisões mais relevantes para nosso dia a dia.
Ou, ainda pior, veiculam a mesma informação para os mais diversos indivíduos não levando em conta a enorme diferença de experiências e contextos que existe em cada observador, atuando em uma mão única.
O filtro humano é tendencioso e retórico. É parcial diante da escolha levando em conta seu próprio repertório e valores. A mídia da “economia dos átomos” nos mostra uma visão limitada e, na maioria das vezes, atrasada, de um mundo em constante evolução.
Com a Internet esse modelo cai por terra. Mesmo que um jornal não noticie um determinado ponto de vista sobre um político ou um acontecimento que só interessa a um pequeno número de pessoas, um blog pode fazê-lo, dando detalhes, fotos e links para que exploremos o assunto tanto o quanto quisermos.
Na década de 70, Maxwell McCombs e Donald Shaw propuseram o que seria chamado de Teoria do Agendamento (Agenda Settings, no original). Segundo a Wikipedia, “a mídia determina a pauta (em inglês, “agenda”) para a opinião pública ao destacar determinados temas e preterir, ofuscar ou ignorar outros tantos” – certamente não seria na TV que eu encontraria tal definição.
A Internet subverteu tal teoria. Com o crescimento da colaboração em massa e das novas ferramentas de gestão de conhecimento e gerenciamento de grandes quantidades de informação, a base da pirâmide passa a influenciar a pauta da mídia.
Ainda que tenhamos o Twitter como um reflexo imediato do offline e, portanto, do agendamento previamente escolhido, a mídia dita “offline” é cada vez mais influenciada pela “online”.
O fato de trocarmos um mundo dominado pela escassez por um mundo em que toda e qualquer informação possível pode ser produzida e noticiada no ambiente interativo muda todo o cenário econômico no qual vivemos.
Se nossa visão de mundo passa a ser mais larga e a economia – campo teórico em que até então estudava-se a correta aplicação de recursos limitados – passa a lidar com um mundo em que praticamente tudo é medido em bits, para onde caminharemos nas próximas décadas, uma vez que o mundo medido em bits é eminentemente abundante?
Fonte: Conrado Adolpho